bitácora

#11

A gravidade é como uma espécie de força que dá sentido e importância ao chão. Um elefante não flutua, um humano não flutua, um gato não flutua, uma formiga não flutua, uma poeira não flutua. Devido à força da gravidade o chão da terra abriga todos os acontecimentos que acontecem a todas as vidas. A gravidade que puxa o elefante, puxou o helicóptero que levava Boechat e o bandô do seu quarto. Não é possível precisar se os acontecimentos foram sincronizados. Não testemunhou nenhum dos dois, mas inteirou-se deles quase ao mesmo tempo. Estava tudo sujo de pó de madeira: lençóis e travesseiros. Seu bandô de madeira que media 1,80m, para esconder uma cortina de uma janela um pouco mais estreita, despencou, acertou primeiro a cama e depois parou no chão. Ao primeiro sinal de fragilidade da peça a gravidade fora assertiva: é para baixo que se cai. As hipóteses são múltiplas: possíveis cupins no passado, a idade da madeira, as excessivas variações do tempo de um verão que alterna tempestades com um sol de 45º, etc. A lei que da física que explica que o bandô haja caído no primeiro segundo em que os pregos deixaram de resistir, é a mesma que rege a órbita dos planetas, que atrai asteróides, meteoritos e outros corpos desavisados que passam perto da terra. A natureza não falha, as leis da física não descansam. Diante da madeira caída no chão, deu-se conta do milagre que lhe tirou de casa para um passeio no mar.