bitácora

04.11.2017

4 de novembro de 2017. Custou-me muito escrever a data, porque eu não conseguia lembrar se era setembro ou outubro. Custou-me localizar o mes porque já é novembro e eu procurava o seu nome em lugar equivocado. É sexta-feira a noite e eu estou em casa. Inscrevo-me em um edital ao que aplico todos os anos. Por isso, fui em tantos lugares enquanto escrevia. Não demorei mais de um segundo na inscrição. Não tenho fé nenhuma. Quando eu estava de pé na cozinha, parecia muito interessante tudo isso que eu tinha para te falar e que agora se desfez em nada. Fiz uma tapioca para a janta. Mudei a receita, mas a essência, o “ser tapioca” permanece lá. A base da minha alimentação diária, que só de pensar me dá ganas de vomitar. A tapioca e o feijão e arroz daqui são uma metáfora perfeita para os dias. Tudo se repete. E isso que se repete não era bom nem se não se repetisse. Uma metáfora dura à que não consigo reagir. Não tenho vontade de cozinhar. Tudo que eu toco fica um lixo. Tal qual minha tapioca com tahine e tomate, que da primeira vez que fiz pareceu-me deliciosa. Sinto sono e meus olhos já quase fecham, também pudera, um dia inteiro escrevendo sentada na mesma cadeira beliscando a mesma comida ruim. Às vezes eu penso que se eu pudesse fazer uma comida melhor meus dias seriam outros.

Una brujería sencilla por donde empezar el cambio.

Desanimo antes mesmo de pensar no trabalho que daria começar. Quando eu cheguei aqui minha comida não era ruim assim, agora é. Agora já não a suporto mais. Não me suporto mais. É sexta-feira a noite e sinto sono. Se eu tivesse ai estaria seguramente te chamando para que pudéssemos escrever noite a dentro, noite até os olhos permitirem. Aprendo todos os dias com meus alunos. Mas o meu celular me leva de volta para o lugar de onde não sai. Preciso seguir em frente, mas de vez em quando me pego pensando sobre onde você está. Em frente é um caminho tão pouco claro. Busco um ritmo capaz de abarcar a cidade perdida que não consigo editar. Paro, organizo a semana e sinto uma enorme falta de ar. O tempo não dá mais pra perder. Antigamente dava. Essa fissura parece incurável. Paro aqui e decido não te enviar resposta.

Agora já é de manhã. Num intento de reagir faço fruta pão para tomar com café. Antes de chegar ao final da primeira página o café já havia esfriado. Tomo café, escrevo, faço compressa no meu pé esquerdo, tentando ignorar que ele já quase completa aniversário de torção. Até aqui a compressa não funcionou. Não entendo porque funcionaria agora. Mesmo assim, insisto. Se não curar, pelo menos melhora. Para onde olho, encontro metáforas do que não consigo resolver. Mas a coisa em si, eu nunca soube identificar. Pensei que no ato de mudar-me encontraria em uma caixa, embaixo da colcha ou fedendo dentro da geladeira. No se puede. Ya no se puede. No se puede más.